quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Notas para um Universo de Super Heróis Brasileiros - 1

Vejo como inegável o fato de que quadrinhos de Super-Heróis são um gênero intrinsecamente norte-americano - algo que lhes é culturalmente próprio e que representa suas ideologias.

O Superman pode ser o ápice da excelência humana - tudo aquilo que o homem almeja ser - mas antes de tudo, ele é o defensor dos valores e do modo de vida americano. Não admira, portanto,  que quando o Superman abdicou de sua cidadania americana nos quadrinhos tenha provocado alvoroço até mesmo fora da mídia especializada. 


E isso não é uma exclusividade apenas de super-heróis que ostentam as cores das bandeiras de seu país, como o Super ou o Capitão América. A afirmação é óbvia, mas válida mesmo assim: mesmo heróis como Batman, Homem-Aranha e Lanterna Verde são veículos para a ideologia dos países de onde foram criados. Não é por acaso que todos estes personagens agem pela manutenção do status quo -  que é equalizada como a "defesa do bem", da verdade, da justiça, da democracia, e por fim, do modo de vida americano.

Não se trata, porém de um modelo propriamente americano: desde a mitologia, os heróis pertenciam a duas classes bem específicas: ou ele era um destruidor de monstros, limpando a face da terra de criaturas monstruosas, ou era um fundador - aquele que estabelecia as raízes de um povo, erigindo cidades. A ligação do Herói com a sua sociedade sempre foi profunda.




Nós, brasileiros, não pensamos assim. Nossas raízes são outras. Nossos "fundadores" e heróis de independência são estrangeiros. Não vivemos, pelo menos não de maneira decisiva, grandes guerras. E talvez nunca tenhamos formado uma identidade - um elemento comum que nos una, para além de toda a mistura que nos constitui. Um personagem que defenda a manutenção da estrutura de poder como o bem supremo não soaria menos do que ridículo, num país de realidades sociais tão discrepantes. Por isso que um Capitão Brasil soa, no mínimo, pueril .


Dito isso, tudo parece ir contra a formação de um universo super-heroístico brasileiro. Mas os Super-Heróis também não são cativantes mundialmente? Ora, Super-heróis são divertidos! Com seus poderes, eles representam aquilo que não podemos ser, e fazem aquilo que gostaríamos de fazer.

E no Brasil? Isso poderia funcionar? Como seria um super-herói brasileiro?


Para mim, ele entraria em duas categorias: ou seria um Tolo Bondoso ou um Executor. 

O primeiro tipo seria a exata transposição do herói norte americano para terras tupiniquins: ele defende fracos e oprimidos, e sempre se julga amparado por um ideal maior. Mas num país de ética e valores malformados, esse herói é desnecessário. Sua utilidade restringe-se a servir os poderes dominantes e ser manipulado por alguém mais esperto do que ele.

O Executor é um herói que encarna a constante frustração do brasileiro. Indignado com sua sociedade, com seus governantes, mas pensando apenas em si mesmo, ele se levanta e crê possuir a verdadeira bússola da Justiça. É desajustado, violento e simplista. E mesmo sendo a personificação de uma certa frustração inerente a todos, facilmente seria transformado em vilão pela mídia.

Por outro lado, uma figura que acredito que funcionaria bem seria o Trickster, um personagem como, por exemplo, o Deus Loki da mitologia (ou dos quadrinhos do Thor). Um tipo que não se sobressai por sua bravura inerente, nem por seus grandes poderes, nem por seu senso de justiça...e sim por sua astúcia.

Típico malandro,suas ações são meramente pautadas por interesses próprios e por seu sangue quente, mas nunca postos em termos de uma dicotomia bem/mal. Embora, no fim, ele acidentalmente acabe levando as coisas a um bom resultado.

Talvez esse tipo seja o único capaz de gerar histórias de super heróis otimistas. Pois ele não defende uma sociedade que é ambígua, mas ele próprio já é ambíguo por definição.

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