sábado, 10 de janeiro de 2015

Coisas que eu li #2: Turma da Mônica Jovem 77


Tirando um pouco a poeira deste blog trôpego e mambembe...

Antes de fazer a resenha desta edição, cabe uma ressalva: não sou um leitor assíduo de Turma da Mônica Jovem. Os únicos quadrinhos que acompanho com regularidade da Maurício de Sousa Produções são as Coleções Históricas - Turma da Mônica e o bem-sucedido projeto Graphic MSP. E de vez em quando uns gibis do Cascão, porque o Cascão é foda.

Dito isso, como veio parar em minhas mãos a Turma da Mônica Jovem 77?  Em primeiro lugar: a história é sobre NINDJAAAAAS! E na quarta capa (abaixo) tem um Ninja Ciborgue com espadas laser. Além disso, existe uma lei cósmica que diz que qualquer história com Ninjas, Ciborgues e Zumbis têm grandes chances de ser muito legal. E Turma da Mônica Jovem 77 tem duas dessas coisas, o que duplica as chances.


(...bem...nem sempre a regra se aplica a todas as histórias)

Mas aí vai outro motivo: o autor do roteiro é o famoso Capitão Ninja....quer dizer, o tarimbado artista dos quadrinhos nacionais Marcelo Cassaro.

O nome de Cassaro, ou ao menos a sua presença nos quadrinhos nacionais, é conhecida por qualquer um que tenha tido a infância nos décadas de 90 e 2000, e é provável que você já tenha até mesmo lido alguma coisa dele sem nem saber que ele era o autor.

A lista é inumerável, e vai desde quadrinhos dos Trapalhões, Pequeno Ninja (notem o padrão) até personagens que estão aí até hoje e tem se tornado icônicos, como o Capitão Ninja (sigam notando o padrão) e a série de jogos de RPG Tormenta, que rendeu inúmeros produtos na forma de romances, quadrinhos (Holy Avenger, do próprio Cassaro, foi  uma das HQs brasileiras mais bem sucedidas), e games (o vindouro Desafio dos Deuses). Também foi o responsável por popularizar o RPG no Brasil, com a revista Dragão Brasil.

Com um currículo como esse, não tem como dar uma chance às histórias escritas por Cassaro. Seu ingresso na Turma da Mônica Jovem como roteirista (edições 6 a 8), já foi uma sacada genial: a história Brilho de um Pulsar ao mesmo tempo trazia uma aventura no espaço que, resgatando a clássica animação da Turma da Mônica A Princesa e o Robô, conseguia criar uma história ambientada no espaço que soasse verossímil para a Turma da Mônica e ainda dialogava com fãs antigos, pegando-os pela nostalgia.

E acho que a palavra certa para avaliar esta edição da Turma da Mônica Jovem, a meu ver, é exatamente nostalgia. Não uma nostalgia do mesmo tipo que aquela de Brilho de um Pulsar, mas uma nostalgia de como os quadrinhos brasileiros eram um dia, e como ainda podem ser.

Na história, a Turma resolve ingressar numa academia de Ninjutsu que abriu no bairro do Limoeiro, cada um com  seus motivos pessoais. Mas a Academia passa por problemas financeiros, e a Turma se une para ajuda-la. Mas um ninja robô humanoide (é sério) pode por tudo a perder, inclusive a relação já conturbada entre Mônica e Cebola.

A história é recheada de referências paródicas a games e personagens ninja famosos da cultura pop (menções às Tartarugas Ninjas e aos games da série Metal Gear;  Jiraya, Naruto, Chun-Li, Scorpion de Mortal Kombat e cia. aparecem na edição) - muito se devendo em parte ao personagem Cascão, que não sei se vc sabe, é um nerd como eu e você.

É nesse sentido que TMJ#77 acerta, "atirando no que vê", mas "acertando o que não vê": ao desenvolver uma trama one-shot, Cassaro cria uma aventura simples e divertida repleta de referências e paródias que provavelmente farão um leitor das antigas se lembrar de antigos quadrinhos brasileiros, como aqueles dos Trapalhões com suas paródias (DidiCop e cia.) ou as revistinhas de super-heróis japoneses feitas por brasileiros nos anos 90.

 É  daí que vem a nostalgia que mencionei acima: não porque relembrará o antigo leitor da sua infância com gibis e filmes da Turma da Mônica, mas porque o relembrará daquele outro gênero de quadrinhos para jovens que pipocava nos anos 90, títulos como Heróis da TV, O Fantástico Jaspion, Flashman, DidiCop, Didi volta para o futuro e outros.

Além disso, o mérito dessa edição está em apresentar uma história leve, que mesmo quem não acompanha regularmente a Turma Jovem pode desfrutar: é  uma trama sem complicações e bastante direta, que nos faz rir aqui e acolá.

Uma coisa que, paradoxalmente, falta nos quadrinhos brasileiros.

Todo o quadrinho voltado para um público mais jovem no Brasil padece de dois males: um é tentar sempre se vender como superprodução: quase sempre são álbuns encadernados luxuosos, divulgados com alarde, esperados com ansiedade, e sao sempre produções pontuais: hoje um volume, daqui a 3 meses, talvez, a continuação da história ou um novo volume, luxuoso, esperado com ansiedade, etc...
O outro mal é que muitos quadrinistas brasileiros se preocupam primeiro em inovar: histórias que pretendem inovar no roteiro, ou na narrativa, ou no desenho, o que, quando bem feito, é genial, mas muitas vezes caem em delírios autorais ou incompreensíveis, já que muitas vezes não há o contraponto (o quadrinho leve e sem compromisso).

Esta edição de TMJ foge desses dois males. Não parece querer oferecer mais do que uma historinha divertida, que dá para ler em 15 minutos: comprei a minha casualmente, numa banca de jornal, para me acompanhar durante uma tediosa viagem de metrô. Penso que seria interessante que se voltasse os olhos para revistas assim - quadrinhos de aventura, para jovens, que não se preocupassem em ser luxuosos ou obras-primas: apenas em serem divertidos e oferecerem uma distração por alguns minutos.

PS: Minha única crítica à história: com tantas cameo de personagens ninja, bem que podia ter rolado uma do Capitão Ninja, hein?


Nenhum comentário:

Postar um comentário